ALEXANDRINA PEREIRA

Alexandrina Pereira nasceu em Setúbal a 15 de agosto de 1947.

Iniciou o seu percurso literário como letrista de canções Infanto-Juvenis em 1994, durante o qual obteve vários prémios de melhor letra, tendo representado Portugal duas vezes no prestigiado Festival Internacional Sequin D’Oro em Itália.

Obteve vários prémios de poesia a nível nacional e internacional. Tem poemas inseridos em Antologias Poéticas em Portugal e na Argentina.

Recebeu a Medalha de Honra da cidade de Setúbal na vertente cultural, a Medalha de Mérito Grau Ouro da Câmara Municipal de Palmela  e o Troféu de Mérito Cultural da Academia de Letras “Marcus Vinícius de Moraes” em Poços de Caldas (Brasil).

Tem nove livros publicados em várias vertentes poéticas. É fundadora-presidente da Associação Casa da Poesia de Setúbal e simultaneamente presidente da Associação Cultural Sebastião da  Gama.

POEMAS DE ALEXANDRINA PEREIRA

REFUGIADOS

 

Rasgam os caminhos

Como quem rasga silêncios.

Os pés descalços, doloridos,

(a alma também).

Suportam a fome, não têm nome,

Rumam a terras de ninguém.

No olhar, poemas mortos,

Palavras desmaiadas.

 As frágeis barcas balançam…

Balançam …balançam

Entre vagas alteradas.

Os dedos das crianças tremem

As grávidas gemem

E o verbo“ fugir” segreda-lhes:

– Todos os sonhos se alcançam!

E as ondas iradas à volta deles

Vergastas na alma

Rasgando-lhes as peles.

Nos longos abismos

Há ventos que sopram

(Triste melodia)

Não têm mais versos

Não têm mais alma

Morre a Poesia!

PALAVRAS ABISMADAS

 

Há horas pressentidas, desenhadas,

Fogo e arte, traços e rostos

Fragilidades esbatidas

Por entre palavras abismadas.

Olhares inquietos na escuridão da noite

Fecundação da miragem

Ferindo sonhos que queimam os versos

Como lava incandescente.

E os gritos calados com sabor a fogo

Os olhos a guardarem silêncios

Na subtileza das cores onde há cânticos maternos

Onde os sonhos adormecem …

E são eternos.

NUM CORAÇÃO DE OUTONO

 

 Na inutilidade das palavras

Suicida-se o tempo.

Desfolham-se os sonhos

Num coração de Outono

Condenado à sede de uma vida

Sem delitos.

Nem o bater das asas de uma ave

Desperta o teu abandono

És oração de vento

Feita em gritos.

No ritual da vida

Que te prende os pés

Há o sussurro do que foste

E do que és.

A cidade sobrevive

No traço do teu corpo inerte

Que bebe do copo do silêncio

Arremessado à tua solidão

Nesse banco de jardim

Que é teu irmão.

E eu sinto-me tão vazia…tão vazia

Que me falta inspiração

E me falta POESIA!

 

                            AOS POETAS

          Escrever é pôr a alma em cada verso

           É sentir dor e amor por todo o mundo

           Sonhar que existe paz no universo

           E tornar esse sonho mais profundo

           Poesia é este nosso amor às letras

           Que juntas forma rimas de esperanças

           Poemas que fazem de nós profetas

           Acalentando os sonhos das crianças

          Os caminhos dos poetas são assim

          Diversos como um enorme jardim

          Onde a cor torna tudo mais bonito

          Todos sentimos que ao abrir o coração

          Cada poeta é um amigo, é um irmão

          E as palavras são amor no infinito.

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SENTIDOS

 

Palmela tem sabor a Sol

ao doce aroma dos campos

a cheiro a casas caiadas,

a uvas por vindimar.

 

Tudo está nos meus sentidos

de forma tão invulgar!

Rebanhos salpicam vales,

douram a serra… ae às vezes,

até as aves imitam

as vozes dos camponeses.

 

Os cardos gravam na terra

as fontes não segregadas,

e no altivo castelo,

sob o vento nas ameias,

dançam moiras encantadas,

em noites de lua cheia.

 

Pela manhã, como uma princesa,

Palmela acorda divina

inundada de beleza.

 

É fruto plebeu da própria vida

onde os vales circundantes,

de suaves faces terrosas,

pintam eternos instantes,

como o perfume de rosas.

 

E o povo que acarinha,

a loira espiga que cresce,

transforma depois em pão,

vestida de sonho e prece.

 

Povo que canta e labuta,

que ama a terra que tem,

num mosto de vinho e luta,

que a mim me prendem também.

 

Ai quem me dera inventar,

num verso inspirado e novo,

o mais bonito poema e assim eternizar

as mais nobres tradições e a vida deste povo.

Na aldeia

de superfície

vestida de alecrim

um homem come

o tempo

entre um e outro muro

vestido de hera.

No olhar guarda

a ventania

que lhe rasga a pele

enquanto as memórias

lhe traçam desenhos

no incondicional

livro das horas

e à noite

o espaço dos afectos

arde no tronco de madeira.

Deitar-se-á conjugando

amor e desejo

no cansaço que nele habita

na cega evidência

de quem apenas respira

porque desse acto

depende a vida.

Apenas isso…

 

(do livro “A Insubmissão dos Sentidos”)

Arrábida meu amor, meu poema

,”Arrábida meu amor, meu poema é o ultimo livro de Alexandrina Pereira, editado em abril de 2013. Trata-se de um “passeio poético” pela Serra da Arrábida, uma “declaração de amor à inigualável Serra da Arrábida que abraça ternamente a cidade de Setúbal”

Na capa o Mural de Pedro Pereira “Arrábida a Património Mundial”; o livro contem fotografias de Carlos Sarzedas, Paulo Alexandre e José Gonçalves.

Os prefácios são de João Reis Ribeiro, Helena Fragôso de Mattos e Pedro Queiroz Pereira.

 

Deixa que meu corpo siga o rio

como asa de gaivota

roçando a crista da onda.

 

Deixa-me florir

No mais perofundo das grutas

onde o silêncio se desfaça

e eu renasça embrião de qualquer ser.

 

(poema também traduzido para francês por Eduarda Gonçalves)

Envoltos na magia do teu encanto

… os Poetas

 

Cada Poema

hálito de Rosas

hora de paz bendita.

 

A Serra o Mar e o Céu

matizam a paisagem infinita

Ágil bailado de gaivotas

em tons de maresia…

 

Páginas soltas de Poesia.

 

(poema também traduzido para francês por Eduarda Gonçalves)

Subirei sozinha

alheia ao cansaço da viagem

 

Sonho

Grito

Canto

Desperto tudo em meu redor

 

O Mar levanta-se

O Céu inventa-se

 

É a palavra

em tempo de Amor

 

(poema também traduzido para alemão por Susana Ulrich)

Sou árvore que respira

Sou ar

Sou terra

 

Frágil ramo

que emerge no azul ondulante do rio

 

onde as algas

se entrelaçam

subindo a Serra

 

Efémeros braços de seda

 

(poema também traduzido para castelhano por Ana Pereira)