ANTÓNIO JACOB LOPES
Nascido em Vendas Novas a 4 de dezembro de 1953 (68 anos).
De família humilde e trabalhadora, pai trabalhador na indústria hoteleira (restauração) com origem em Lavre Montemor-o-Novo e Mãe Costureira de Senhoras, oriunda de Pias no Baixo Alentejo
Tendo frequentado o ensino primário na Escola Publica e num Colégio Salesiano, interrompeu os estudos com a conclusão da quarta classe.
Aos 14 anos iniciou o Curso Geral de Comercio (currículo antigo) ensino noturno e com o estatuto de trabalhador estudante. Curso que completou até à entrada no serviço militar.
Após o serviço militar frequentou o curso Complementar de Administração e Comercio de 2 anos (equiparado ao antigo sétimo ano liceal) e também como trabalhado estudante
Sempre gostou muito de ler e sempre foi muito incentivado tanto pelo pai como pela mãe. O pai comprando livros. A mãe fazendo leituras connosco, Contos e poesia e textos dramáticos eram o entretém de algumas tardes enquanto costurava.
Quanto ao que escreve, não gosto de classificar a sua poesia, escreve o que lhe sai da alma, do coração, da razão e quem sabe da falta dela.
Tanto escreve com métrica e com rima como escreve livremente ao sabor do prazer que o escrever lhe dá.
Recentemente descobriu o gosto por escrever poemas para fado.
POEMAS
LUXÚRIA
Nos teus olhos,
Perco-me, achando-me feliz,
Como feliz é o pássaro que canta
Na liberdade dos gradeados de uma gaiola.
Nos teus gestos,
Descubro oceanos,
Onde as ondas me afogam no prazer
Das tuas mares vivas.
No teu rosto
A beleza das magnólias
E o esplendor das rosas do Japão,
Em cameleiras de contentamento.
Nos teus beijos,
O sabor da fruta madura de verão,
A frescura da brisa da tarde
E a intensidade de um forte vendaval.
No teu corpo,
Estátua renascentista
Cinzelada por um qualquer escultor
Para meu encantamento,
O cheiro a mel e a canela
Com laivos acitrinados na alquimia dos sentidos.
Tudo em ti, apela ao prazer
E perdidos de felicidade, damo-nos,
Na alienação da luxúria dos nossos corpos,
Num sexo selvagem e apaziguador.
06/10/2022
CARTA A UM AMIGO
E tu que seguindo sempre sozinho,
sem teres irmão amigo ou companheiro,
não vejas em mim mais um conselheiro
mas fonte de amizade e carinho.
Não venho pedir bens nem dinheiro
nem venho para ensinar o caminho.
Só quero que saibas que no meu ninho
encontrarás, amigo o teu celeiro.
E dizer-te amigo que em meu pomar
encontrarás o fruto e a semente,
a sombra, frescura, abrigo, bem-estar.
Mesmo que no céu brilhe o sol ardente,
galguem para terra as ondas do mar
ou que a terra se rasgue de repente.
jun./1977
CATA-VENTO
Que fazes tu, cata-vento,
Quando o vento te dá na asa?
Rodas como que alienado.
E julgas-te um portento,
Aí! Em cima da casa,
Sustentado pelo telhado.
Que ilusão a tua, amigo!
És um pau mandado.
Com brisa ou vento forte,
Rodas sem saberes o perigo,
De ires parar a qualquer lado,
Pois já perdeste o norte.
Mas tal como tu, iludidos,
Há muita gente, por aí,
A ver a vida passar.
Sem se julgarem perdidos,
Sem pensarem por si
Nem saber o seu lugar.
E na inconsequência,
De quem olha o seu umbigo.
Seguem ao sabor da bajulice.
Vivendo na ignorância
Do que lhe sopram ao ouvido
Mesmo que seja tolice.
2011
NOVO DIA
Poeta faz ouvir tua voz,
Para que juntos logremos ser nós
E o penar se transforme em poesia.
Para que a dor não seja padrão,
O amor passe a ser a canção
E o poema seja pandemia.
Não desejemos mais falsos profetas
E o mundo passe a ser dos poetas.
Não às desleais política e filosofia.
Que se inundem de pureza as almas
E as palavras sejam doces e calmas,
Para que o cântico seja de alegria.
Que a lírica cale bombas e mísseis,
Acalme as iras dos tempos difíceis
E o vocábulo ponham fim à cobardia.
Para que das cinzas se volte a falar das cores,
As palavras tenham o aroma das flores
E assim surja, do poema, um novo dia.
25/10/2022
“Eu amo-te para sempre!”
“Eu amo-te para sempre!” Sempre dizia,
Aquando seu olhar o meu olhar cruzava.
Eu, acreditando que de verdade me amava,
Acreditava que declarava, o que sentia,
Não imaginando que me ludibriava
E com equívocos, o seu amor fingia.
Com muito deleite e verídica alegria,
Este nosso dúbio amor eu consumava.
Vivendo a verdade da ficção e utopia,
Amando o que sua boca sempre falava,
Sofri na mais cruel e impiedosa realidade
E aquele muito tempo, que eu então sentia,
Quando “Eu amo-te para sempre!” escutava,
Tornou-se pouco, pro que sinto de verdade.
12/06/2022
FADOS
Fado do Rio Azul
As águas azuis do Sado
Azul que o céu cativou
São dum barco naufragado |
Que topázios lá deixou | (Bis)
Nesse barco navegava
Princesa que da vigia
Viu golfinho que chorava |
Porque a princesa partia | (Bis)
E a princesa comovida
Barco deixou naufragar
O delfim salva-lhe a vida |
A carga caiu ao mar | (Bis)
E assim a bela baía
De azul topázio ficou
Só porque naquele dia
Um barco ali naufragou
Só porque naquele dia
Princesa se apaixonou
18/07/2022
Interprete: José Raimundo
Música: Joaquim Campos da Silva (Fado Amora)
Letra: António Manuel Jacob Lopes
Fadista
O fadista quando canta,
Canta com os sentimentos
E o que lhe sai da garganta, |
Não são notas são lamentos. | (Bis)
Canta com um tal fervor,
A tristeza e a saudade
Que canta nos seus amores, |
Os amores da humanidade | (Bis)
Também canta a alegria,
Batendo bem o compasso.
Canta o fado noite e dia, |
Sem nunca sentir cansaço. | (Bis)
Na redondilha maior
Alexandrinos também,
Canta o fado menor |
E o maior como ninguém. | (Bis)
Com a quadra, a sextilha,
A estrofe irregular,
O terceto, a quintilha, |
Encanta no seu trinar. | (Bis)
E aos poetas dando voz,
Sentindo os versos que diz,
Canta para todos nós, |
Poema triste ou feliz. | (Bis)
13/08/2022
Interprete: Mário Jacinto Santos
Música: José Fontes Rocha (Fado Isabel)
Letra: António Manuel Jacob Lopes