ARNALDO RUAZ
Arnaldo Ruaz fala de si e da sua obra
POESIA DE ARNALDO RUAZ
SER POETA
Ser poeta é ser a luz
Que rasga a escuridão
Sentir algo que conduz
À beleza e à criação.
É ter o poder que seduz
Até o mais frio coração
Que tudo em belo traduz
Mesmo a feia imperfeição.
É ter na alma uma flor
Que tudo perfuma de amor
Sem restrições ou medida
E de sonho e fantasia
Fazer chave com magia
Que abra as portas da vida.
“ PALMELA “
I
Palmela , nobre senhora
Altiva mas sedutora
Majestosa castelã.
Fiel amante dos seus valores
Mãe de servos e de senhores
Generosa anfitriã.
II
Em cada manhã de Abril
Manhãs de Maio , manhãs mil
O Sol terno e respeitoso.
Mal chega ao Horizonte
Corre a beijar-te a fronte
E logo sorri radioso.
III
Tuas velhas e estreitas ruas
De pedras gastas e nuas
Que dizem história e labor.
São veias por onde passa
O rubro sangue d´uma raça
De coragem e de valor.
IV
O teu castelo imponente
É guardião diligente
Erguido sobre os rochedos.
Atento além ao tesouro
Os teus jazigos de ouro
Os belos e grandes vinhedos
V
Dessas vinhas orgulhoso
Baco , deus poderoso
Traçou ele o teu destino.
Impondo com sua chancela
Que o vinho de Palmela
Fosse considerado divino.
VI
Póde apagar-se da história
O teu passado de glória
Que hoje a nós se revela.
Mas ao longo das gerações
Guardada nos corações
Serás eterna , Palmela.
“ Promessa”
Numa distante noite, algures na vida
Em lamentoso “diálogo com Morfeu”,
Este amável e solícito me prometeu,
O amor, a felicidade apetecida.
Promessa cara esta, desmedida
Da qual fui levado a duvidar
Não desisti porém de a procurar
Visto ser por quem era, prometida.
Bendita a esperança que me animou.
E me levou certo dia já cansado,
A que a uma porta mais fosse bater.
Abre-se esta, e eis que me mostrou,
O tão caro sonho, realizado,
Na beleza e perfeição do teu ser.
18-01-1973
“ AMANHÔ
Abraçou-me a noite, ainda há pouco,
e como estou confiante
nos seus longos braços protectores.
Ao longe, o dia,
ainda me acena um último adeus,
num breve “até amanhã”.
Tão breve e fugaz,
como o presente afago do tempo.
. . . Quão imensa
a incógnita do “amanhã”.
14/10/2018
MOTE
Amor, belo sentimento
Razão da felicidade
É da alma o alimento
É o ser da humanidade.
I II
De poetas e romancistas Força oculta, abençoada
É fonte de inspiração Nada a consegue evitar
Aperfeiçoa o condão P`los olhos se faz mostrar
Aos mais modestos artistas. No coração tem morada.
Dos heróis, nas conquistas Não tem hora de chegada
Foi coragem, foi alento Ignora a sociedade
É paz e entendimento Do pobre, da celebridade
E a pobreza enriquece Não faz qualquer distinção
É um dom que enobrece E é em qualquer coração . Amor belo sentimento Razão da felicidade.
III IV
Por amor quantos seres. Tenho tentado imaginar
No Mundo se sacrificam A vida sem o amor
Quantas dores se dulcificam Mas não consigo supor
Com seus divinos prazeres . Coisa alguma em seu lugar.
Seus milagrosos poderes Se é todo o verbo amar
Minoram-nos o sofrimento Que lhe dá finalidade
É eterno monumento Sem amor só infelicidade
Erguido aos corações Seria a nossa existência
É o ser das gerações Ele é da vida a essência
É da alma o alimento. É o ser da Humanidade
.
O MEU RIO *
Não corres,
não precisas correr, não tens pressa
e conheces bem o caminho;
esse que a tua mãe Natureza te mostrou
e que segues confiante e seguro.
Serpenteias, espreguiças-te e cantas feliz,
beijado pelo sol ardente do Sul
e pelas estrelas do Mundo.
Abraçando vales e montes,
lavando corpos e almas,
vais, generoso, saciando os dourados arrozais,
que pelo caminho te aguardam, sequiosos.
Mais além,
Alcáçer olha-te carinhosa,
convidando-te à preguiça e ao devaneio, a que não resistes.
Mas Setúbal aguarda-te, impaciente,
e abre-te as portas da sua mais bela sala de visitas. Não te fazes rogado;
serena e discretamente, como gostas,
vais beijar a Arrábida,
acenas ao Atlântico
e logo corres a deitar-te
no regaço confortante da velha cidade,
que te abraça, embevecida.
Só então, espelho de olhos e de sonhos,
revelas a beleza do teu azul,
e o carinhoso afago
da tua tranquilidade.
30/11/2018
* ( O Sado)
A L E N T E J O
Alentejo, suor e sangue
Terra dura da escravidão
Onde o sonho morre exangue
Perdido na solidão
—
Alentejo, sacrifício
Terra esquecida e só
Em eterno suplício
A tua boca morde o pó.
—
Alentejo, miséria e fome
Terra de dor e de pranto
Onde a vida se consome
Em profundo desencanto
—
Alentejo, sol ardente
Que queima sem compaixão
Mas que germina a semente
Da paz, do amor e do pão.
—
Alentejo, poesia
Maré d`esperança adiada
Há mil vozes em sintonia
Na campina perfumada .
—
Alentejo, minha terra
Terra de força e verdade
Onde cada espiga encerra
Um grito de liberdade.
( Julho de 1970 )